sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sua benção Tales menino.

Abençõe a esta pobre alma de dinda.
Esta alma que nem sabe abençoar, que nem acredita no poder acima, que não sabe enxergar para além daquilo que sente. Que só consegue pulsar e amar na vida. Alma que abandonou a razão e que não consegue explicar o medo e pavor de olhar o seu rosto e imaginar que você veio para este mundo. 

E que mundo ... Perdão menino Tales mas aqui nem tudo é àgua pois os rios estão poluídos e o fluxo da razão destruiu a humanidade do homem. Os homens que aqui governam esquecem o sabor,  o calor e o som do seio da mãe e aos poucos se afastam do coração, e sem ele também esquecem que foram meninos e assim apagam de suas memórias as verdadeiras necessidades da vida. Esquecemos a necessidade do calor do outro, do abraço apertado. Cronos foi dominado e agora não podemos observar o detalhe pequeno do dia a dia que torna o instante presente o presente pra vida. 

Porém meu querido menino o que nos faz humanos é contradição, a mesma que nos torna únicos. E contraditoriamente, em tempos de vidas sem alma, ainda se vive. O único e maior valor que carregamos é o que pulsa em nossas veias, arrepia a nossa alma, umedece nossas roupas. O espanto, aquilo que inclina o homem para a filosofia, nos toma de assalto quando o acaso nos surpreende com a vida. Quando tudo parece morte, nasce um Tales. As pequenas mãos nos deixam indefesos do mundo, o silêncio, a respiração dos pequenos nos remete aquilo que queremos cuidar que é o outro. O outro somos nós mesmos, modificamos nossa re-existência para a sua existência . É aqui que aprendo com você. A me renovar quando me torno dinda, aquilo que só posso ser sendo.

Abençõe esta alma de dinda, devolva pra elas as suas palavras. Tome: modifique a sua existência.


domingo, 14 de agosto de 2011

Aos que me roubaram a alma.

E eles fazem isso, sempre me roubam o direito de não ser nada, de não querer nada. Eu grito, corro, fujo mas eles insistem em ficar e quando me dou conta a argamassa do muro derreteu. Com ela vão as minhas certezas e meu orgulho, minhas leis e razão, a culpa e misericórdia . Eles expõem minha vergonha em praça pública, escrevem "insegurança e medo" em minha testa. Rasgam minha roupa e me deixam nua. Sugam meu sangue, mergulham minha cabeça na bacia e me tiram o ar. Ao final eles me sangram a carne e quando estou quase-morta eu acordo em lençóis brancos com cheiro de flor. 

Me trazem comida, bebida. Acalantam meu corpo, lavam meus pés, aparam meus cabelos e unhas. Deito no colo e enquanto brincam com os meus caracóis exalam palavras de amor e perdoam meu defeitos. Insistem que meus pecados são milagres, que meus problemas são ternura e que a minha vida é mármore rosa de tão rara e preciosa mas possível de ser vista.

Não resta nada daquela que fui, dos gritos que dei e do desespero em não querer amar. Não sei mais nada sobre aquela que vivia sozinha, que não precisava de nenhuma voz de "boa noite" e nenhum beijo de "bom dia". Agora me configuro por aquilo que não me encontrei, que não sei explicar, que me faz incompleta e que me lança para a morte enquanto insisto na vida. Eu hoje penduro a minha alma no ombro de quem me ama.