domingo, 14 de agosto de 2011

Aos que me roubaram a alma.

E eles fazem isso, sempre me roubam o direito de não ser nada, de não querer nada. Eu grito, corro, fujo mas eles insistem em ficar e quando me dou conta a argamassa do muro derreteu. Com ela vão as minhas certezas e meu orgulho, minhas leis e razão, a culpa e misericórdia . Eles expõem minha vergonha em praça pública, escrevem "insegurança e medo" em minha testa. Rasgam minha roupa e me deixam nua. Sugam meu sangue, mergulham minha cabeça na bacia e me tiram o ar. Ao final eles me sangram a carne e quando estou quase-morta eu acordo em lençóis brancos com cheiro de flor. 

Me trazem comida, bebida. Acalantam meu corpo, lavam meus pés, aparam meus cabelos e unhas. Deito no colo e enquanto brincam com os meus caracóis exalam palavras de amor e perdoam meu defeitos. Insistem que meus pecados são milagres, que meus problemas são ternura e que a minha vida é mármore rosa de tão rara e preciosa mas possível de ser vista.

Não resta nada daquela que fui, dos gritos que dei e do desespero em não querer amar. Não sei mais nada sobre aquela que vivia sozinha, que não precisava de nenhuma voz de "boa noite" e nenhum beijo de "bom dia". Agora me configuro por aquilo que não me encontrei, que não sei explicar, que me faz incompleta e que me lança para a morte enquanto insisto na vida. Eu hoje penduro a minha alma no ombro de quem me ama.

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