domingo, 11 de setembro de 2011

Minha mãe me abandonou para a vida.

Num pequeno instante, olhando os olhos de minha mãe, um olhar distante e inseguro, olhos quase-velhos e inocentes. Foi olhando dentro destes olhos que me vi, reconheci a mim mesma embora não fosse parte de mim. Era outra pessoa.
Dentro deles eu encontrei a troca, não mais a segurança pois tudo era aberto e incerto. Não havia amor incondicional ou compaixão, éramos adultas, por vezes meninas e no fim duas.

Eramos duas em suas escolhas, eu escolhi nascer daquele ventre, ela escolheu me dar a vida. Naquele instante, nem o acaso da natureza, nem o projeto de deus, nem os grandes sábios. Eramos vida: ela saíra de meu ventre, se alimentara em meus seios, dormira em meu colo e depois, na adolescência da vida, me trocara pelo mundo. A mim restou envelhecer e olhar aqueles olhos, perceber o quanto somos duas, o quanto ela me permite ser e apenas isso.

Sem agradecimentos, sem obrigações, sem amor eterno, sem culpa e sem medo. Ela, apenas, me deixou seguir e por isso não me pede nada em troca. Com isso me permite retornar em seus olhos e me deixar espantar pela vida, permite que eu continue sugando de seu corpo aquela seiva carnal. Aquilo que se faz vida apenas por ser. Nada mais.

Naquele pequeno instante, acredito que, cresci.

Para minha mãe, que me abandonou para a vida.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sua benção Tales menino.

Abençõe a esta pobre alma de dinda.
Esta alma que nem sabe abençoar, que nem acredita no poder acima, que não sabe enxergar para além daquilo que sente. Que só consegue pulsar e amar na vida. Alma que abandonou a razão e que não consegue explicar o medo e pavor de olhar o seu rosto e imaginar que você veio para este mundo. 

E que mundo ... Perdão menino Tales mas aqui nem tudo é àgua pois os rios estão poluídos e o fluxo da razão destruiu a humanidade do homem. Os homens que aqui governam esquecem o sabor,  o calor e o som do seio da mãe e aos poucos se afastam do coração, e sem ele também esquecem que foram meninos e assim apagam de suas memórias as verdadeiras necessidades da vida. Esquecemos a necessidade do calor do outro, do abraço apertado. Cronos foi dominado e agora não podemos observar o detalhe pequeno do dia a dia que torna o instante presente o presente pra vida. 

Porém meu querido menino o que nos faz humanos é contradição, a mesma que nos torna únicos. E contraditoriamente, em tempos de vidas sem alma, ainda se vive. O único e maior valor que carregamos é o que pulsa em nossas veias, arrepia a nossa alma, umedece nossas roupas. O espanto, aquilo que inclina o homem para a filosofia, nos toma de assalto quando o acaso nos surpreende com a vida. Quando tudo parece morte, nasce um Tales. As pequenas mãos nos deixam indefesos do mundo, o silêncio, a respiração dos pequenos nos remete aquilo que queremos cuidar que é o outro. O outro somos nós mesmos, modificamos nossa re-existência para a sua existência . É aqui que aprendo com você. A me renovar quando me torno dinda, aquilo que só posso ser sendo.

Abençõe esta alma de dinda, devolva pra elas as suas palavras. Tome: modifique a sua existência.


domingo, 14 de agosto de 2011

Aos que me roubaram a alma.

E eles fazem isso, sempre me roubam o direito de não ser nada, de não querer nada. Eu grito, corro, fujo mas eles insistem em ficar e quando me dou conta a argamassa do muro derreteu. Com ela vão as minhas certezas e meu orgulho, minhas leis e razão, a culpa e misericórdia . Eles expõem minha vergonha em praça pública, escrevem "insegurança e medo" em minha testa. Rasgam minha roupa e me deixam nua. Sugam meu sangue, mergulham minha cabeça na bacia e me tiram o ar. Ao final eles me sangram a carne e quando estou quase-morta eu acordo em lençóis brancos com cheiro de flor. 

Me trazem comida, bebida. Acalantam meu corpo, lavam meus pés, aparam meus cabelos e unhas. Deito no colo e enquanto brincam com os meus caracóis exalam palavras de amor e perdoam meu defeitos. Insistem que meus pecados são milagres, que meus problemas são ternura e que a minha vida é mármore rosa de tão rara e preciosa mas possível de ser vista.

Não resta nada daquela que fui, dos gritos que dei e do desespero em não querer amar. Não sei mais nada sobre aquela que vivia sozinha, que não precisava de nenhuma voz de "boa noite" e nenhum beijo de "bom dia". Agora me configuro por aquilo que não me encontrei, que não sei explicar, que me faz incompleta e que me lança para a morte enquanto insisto na vida. Eu hoje penduro a minha alma no ombro de quem me ama.

domingo, 31 de julho de 2011

Mataram a mendiga louca que vivia no lixo.


Mataram a mendiga louca que vivia no lixo.
Para Dalva, a louca.

Mataram a mendiga louca que vivia no lixo. Bem feito: quem mandou viver? Que sentido tem fazer poesia dos restos enquanto todos nós queremos esquecer o lixo que somos. Reciclamos, separamos vidros, plástico e orgânico. Pra quê? Pra não sentirmos culpa  pois no fim tudo vira uma coisa só nos lixões públicos.
Mas o que isso me interessa? Gramacho é a estação final da linha de trem, um lugar longe de nós – nós que somos tão civilizados, limpos e conscientes com responsabilidade social.

Nos indignamos nas salas escuras do cinema: aplaudimos de pé e emocionados a vida - tanta vida que ela nos trouxe, pois de vez em quando é bom lembrar que somos humanos -  e após o “the end”, passamos longe dos hospitais públicos, que são públicos assim como o lixão de Gramacho e por serem públicos recebem os restos de lixos dessa humanidade sem humanidade. E foi lá, num hospital público que ela morreu.

Os hospitais públicos, os sanatórios públicos, as cadeias públicas e os lixões públicos são lugares podres: sujos, fedorentos, barulhentos e coloridos: não são cinzas como os prédios que cortam os céus das cidades e os shoppings centers (nome que nem tenho direito de escrever no plural). São vivos, pulsam tudo que sai de dentro de nós: as nossas fezes, suores, nossos gritos, lamúrias e desesperanças que estão depositados nestes lugares cheios de vida. A vida que queremos esquecer. Esquecer que na verdade somos uma panela de pressão pronta para gritar, para dizer que somos contradição, horror e feiúra, mas que somos esperança: esta que não se compra, que não se pode arrancar, que Pandora deixou na caixa e que buscamos a todo tempo.

Mataram a mendiga louca, foi queima de arquivo, ela era humana demais para viver em tempos de barbárie. O enterrro foi sexta. Se fuderam: enraizaram a poesia do mundo.



quarta-feira, 27 de julho de 2011

HOJE 27/07/2011 OS MORADORES DA ILHA DA MADEIRA (SEPETIBA/RJ) ESTÃO UNIDOS CONTRA AS OBRAS DE AMPLIAÇÃO DO PORTO DE SEPETIBA.


HOJE 27/07/2011 OS MORADORES DA ILHA DA MADEIRA (SEPETIBA/RJ) ESTÃO UNIDOS CONTRA AS OBRAS DE AMPLIAÇÃO DO PORTO DE SEPETIBA.

Há cerca de dois anos os moradores da Ilha da Madeira, um pequeno paraíso localizado em Sepetiba (Rio de Janeiro) sofrem com as intervenções de obras no local devido a ampliação do Porto de Sepetiba. As obras possuem como principal investidor a empresa LLX, empresa de logística do grupo EBX, dirigida pelo empresário EIKE BATISTA, e foram investidos cerca de R$1,8 bilhões, recursos federal e privado.

Porém, a implementação do empreendimento tem causado mais do que transtornos mas desrespeito aos direitos dos moradores locais, em sua maioria famílias tradicionais de pescadores que estão sofrendo diretamente os impactos das obras, que reativou a Pedreira de Sepetiba (uma pedreira local), além de desapropriar centenas de moradores da região e de destruir uma região de manguezal que existia há menos de 1 ano na entrada da Ilha. Os moradores também afirmam que a empresa USIMINAS está "mexendo num barro contamido com zinco", abandonado desde os anos 1980 com a falência da empresa INGÁ MERCANTIL. Segundo o relato dos moradores o material é extremamente poluente levando os trabalhadores que manuseiam os tratores de retirada do material a desmaiarem durante o processo.

Hoje, dia 27/07/2011 os moradores da Ilha estão nas ruas: o que eles reivindicam são indenizações decentes para saírem da Ilha uma vez que a luta pra permaneceram no local onde nasceram e construíram suas vidas foi vencida pelos interesses econômicos. Os moradores da Ilha interditaram estradas e as entradas das empresas que se instalaram no local desde o início do ano (Odebrecht, LLX, USIMINAS, etc) impedindo o acesso de caminhões e dos trabalhadores.

Segundo depoimento de moradores (por questão de segurança terão seus nomes ocultados) a poeira é insuportável: as praias já não podem mais ser frequentadas; o barulho no local é gritante; a reativação da pedreira destrói a mata regional e desde 2009 os animais que habitavam nas florestas estão entrando na casa dos moradores e pedras gigantescas rolam para as ruas. 

Em Novembro de 2009 a Rede Globo de Televisão realizou uma reportagem sobre os impactos da reativação da Pedreira no local porém nada foi feito.

Não é a primeira vez que os moradores sofrem com empresas privadas que com autorização legal e ilegal das esferas públicas se instalam, poluem indiscriminadamente o local resultando na impossibilidade de trabalho dos pescadores, do turismo e da moradia, como foi o triste caso da instalação da INGÁ Mercantil nos anos 50. 

(Parte desta história está relatada no documentário "Territórios de Sacrifício ao Deus do Capital: o caso da Ilha da Madeira. Segue link http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=NoticiaInterna&Num=122&Destaques=1 ) 

A Associação de Pescadores local (APLIM), além de outros grupos de movimentos sociais do Rio de Janeiro tentam em vão desde 2009 intervir nas obras de forma que elas não expulsem os moradores da Ilha da Madeira, porém a triste constatação é que infelizmente será impossível a vivência no local e o que querem agora é que aconteçam imediatamente negociações justas para que os moradores saiam da ilha com a mínima possibilidade de sobrevivência, uma vez que não poderão mais exercer as atividades de pesca e turismo, principais fontes de renda das famílias.

Para dar corpo e voz as reivindicações dos moradores é necessário tornar pública esta situação: peço que todos repassem para seus grupos, mídias, amigos e qualquer rede que possa tornar pública esta questão. Vamos ser mais do que solidários mas pertencentes às famílias da Ilha da Madeira que assim como nós estão sofrendo com as intervenções na Cidade Maravilhosa com a Copa do Mundo e Olimpíadas. Esta cidade é nossa.

Fabiana Melo Sousa

quinta-feira, 16 de junho de 2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

E hoje, enquanto eu observava um arcanjo limpar as minhas flores esqueci a chave da caxanga na porteira. Mas vieram os erês, guardaram tudo e celaram a minha porta com suspiros. 
Porém, durante todo o dia alguma coisa pesava nessa alma de preto velho e me fazia querer nada, e era como se a vontade de ir encontrasse um muro de cimento fresco, recém criado para me atrapalhar.
Mas segui a estrada e vinham almas que me alimentaram sem que eu pedisse, me alertaram do perigo sem que eu estivesse com medo e puxaram um grande e lindo tapete vermelho para os meus sonhos. E de noite, haaaa ... uma bela flor de baunilha me perfumou.
Voltei para casa e o doce dos suspiros tinham atraído borboletas que de tão levez e bonitas impediam que qualquer maldade humana e sobre-humana me fizessem mal.
Agora, esta alma está em paz, dorme em uma nuvem azul. Sente saudade do riso do arcanjo, do cheiro dos erês, do sabor da baunilha e das asas da borboleta, mas é agora que ela sabe perfeitamente o que é o amor porque e vive da realidade. Esta que é feita de realismo e nada mais.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Da inutilidade de mim ...

E aí descobri que o amor é isso, algo maior do que eu e que se entranha no mundo e não tem volta. Aquilo que não se tem controle quando sai de você e que aos poucos é fisgado no emaranhado da vida como uma rede que te pesca quando está distraído.

No início é só contemplação e tudo fica claro. Mesmo a escuridão da noite é tomada por certa luz e as sombras passam a ser relevo de você no mundo.

Mas depois, quando se dá conta de que tudo mudou, de que agora você não é mais você e sim outra pessoa, você passa a ser coisa - não aquela pensante mas coisa que sente, que pulsa. Coisa de carne que desconhece verbos e adjetivos, que é incapaz de dizer o que sente e por isso sangra o tempo todo. Você só consegue juntar as patas, olhar pra cima e pedir amor, comida e carinho, como se as grandes teorias, os grandes pensadores, os maiores monumentos não fossem bastante para explicar o que se sente.

E no fim ... não ... ele não tem fim ... Porque ele se transforma, transmite como epidemia e pronto. Você agora não é mais nada diante dele e ele nem precisa de você. É aí que você se sente dispensável, o que na verdade você é: completamente inútil, sem graça e sem vida. Pois não são das suas formas que ele precisa, tampouco dos seus atos e palavras. Não, ele precisa, por um curto espaço de tempo, apenas da sua alma.

E eu que sempre desconfiei que a minha alma sempre foi um pequeno retalho. Nada mais ...



domingo, 10 de abril de 2011

Bela

A Bela aparece como num surto sem avisar e tira o sono. Quem pensa que é essa tal  pra perturbar a paz angelical do repouso? O que pensa saber da vida para esfregá-la na minha cara e devolvê-la em frescor.
As luzes se acenderam e agora o palco está iluminado, estou pronta para reapresentar sem ensaio. Agora o improviso me toma e recito um monólogo sem diretor. Não existe persona: sou eu no coração e na carne viva que vibra, em todos os lados.

Tudo é claro e vejo o rosto de todos na platéia, mas há algo estranho pois todos eles sou eu, parecem comigo e me olham. São cerca de cinquenta olhos castanhos, rostos redondos, cabelos curtos e almas em construção. Mas por cima de cada uma existe o reflexo da Bela. Ela fala no ouvido, olha no fundo da carne e lembra a humanidade que existe em cada uma de mim. É assim que ela me quer, protagonista no palco e olhar na platéia ao mesmo tempo.

Que venham as Musas então e me tomem no ventre, gerem em mim amor, desejo e paixão para saber mais, viver mais e ser mais alma. Que eu encontre a medida certa para fazer o lençol que irá cobrir os sonhos devassos e os gestos desnudos desta delicada alma.

Desta Bela alma ...





terça-feira, 5 de abril de 2011

Para o príncipe que bebeu a àgua do rio Alétheia

Nas nossas rodas infantis eu era rainha e você principe.
O pano da cama era o palácio e os brinquedos nossos súditos.
Os banquetes de bolachas cream craker eram a sensação,
e assim a vida passava com cheiro amarelo.

Mas um dia o principe se aborreceu e trancou o amarelo na masmorra.
Chamei o bobo da corte mas ele não riu,
Pintei seu busto com verde mas ele não gostou,
E assim tudo que era sonho virou realidade.

Ele parou de enchergar o amarelo,
Me disse que a vida era dele e que seus sonhos também.
Que não eram súditos aqueles velhos brinquedos,
E que a ilusão era a arma dos tolos.

Segui então meu caminho e construí outros castelos,
Arrumei os mais belos vitrais e deixei os muros baixinhos por onde entravam a plebe, os reis, animais, mendigos, crianças, amores e vários tons de amarelo.

Enquanto ele desbotava cada vez mais ...
Sua cria gritava por calma, amor e paciência.
A matriarca urrava de dores e desconsolo.
E aquela que era seu amor foi virando dias costumeiros.

Agora chega o terremoto.
Castigo das Deusas ao esquecido principe.
Sua cria foi a primeiro a pular o murinho do castelo.
O amor demonstra num pequeno sorriso segundos de paz e confiança,
Mas o príncipe não quer voltar à magestade.

Talvez porque seja difícil carregar as pedras do castelo,
Ou mesmo porque esqueceu das borboletas que o ajudariam.
Mas a força da Terra é violenta demais para aguentar,
E, que pena, a masmorra tomba a cada dia.

As portas do meu castelo estão baixas, mas não completamente.
Não há nada de realeza deixar o príncipe impune.
Ele se deixou esquecer a verdadeira lição da felicidade,
e agora as Deusas da floresta estão lhe dando a chance de relembrar o amor.

Venha príncipe, não tenha medo de morrer,
Deixe que as roupas de gala se remendem,
que os pássaros arrumem a mesa com outras bolachas,
traga sua cria e seu amor para brincarmos juntos.

Mas venha logo,
pois a vida não perdoa os príncipes machões e covardes,
e o ensinamento das Deusas dizem que as vezes é tarde demais.
E bem na superfície de minha cara ainda resiste um sonho de que o amarelo ainda pode se salvar.


Oração para as Mulheres


Que as Deusas abençõem as bruxas queimadas e aquelas que ainda serão;
Que dêem maestria às prostitutas e que vinguem os corpos das violadas,
que energizem com força os ventres das mães solteiras para que deles nasçam o amor,
que encham de coragem o peito das matriarcas pobres e cansadas do labor.

Que soltem a voz das companheiras ainda em silêncio pelo medo;
que matem os machos podres e feridos pela inveja da força que temos.

Deusas, rogai pelos nossos seios, vaginas, pernas e bundas
que tenhamos a cada dia o prazer de saber porque somos.

Santas e devassas que derramaram sangue, gozo, suor e esperanças pelo mundo;
fazei de nossas lutas uma só.

Fabiana Melo Sousa - 08/03/2011


quinta-feira, 31 de março de 2011

Nesta madrugada Orfeu salvou Euridice de Hades

Nesta madrugada Orfeu salvou Euridice de Hades
Ela, morta e insegura, grita por seu herói para ele resgatá-la do inferno.
Em meio a mortos vivos ela grita e pede socorro pois seus companheiros não a escutam.

Até que Orfeu escuta o grito, pega a sua harpa e voa.
Euridice tem medo por não saber o que fazer
pois se sente desnuda diante da salvação.

Porém ela se rende, ele a coloca num cavalo branco
e segue seu cortejo de salvação encantando onde passa.
Ela agradece.

Assim hoje Euridice dorme em seus mantos cheirando a lavanda.
enquanto imagina o que deve se passar na cabeça deste Orfeu.
Então deixa que o corpo vença a sua morte e segue assim para o outro dia.

terça-feira, 29 de março de 2011

Pílulas ...

Tenho medo dos intolerantes que se definem como radicais ou apaixonados e empurram no precipício toda a beleza do mundo.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Hoje fui resgatada por uma deusa ...

Fui enganada por toda a vida;  me disseram que um dia eu ia mudar, que eu seria menos radical e que entenderia que o mundo é assim mesmo e acabou ... Que Deus um dia iria entrar na minha vida e que Ele - macho, viril e soberano -  poderia me ajudar a encontrar o sentido das coisas.

Queimem no marasmo aqueles que arrotam inteligência, pois batem no peito e se orgulham do tempo que lhes levou a juventude e deixou certezas. Covardes que se escondem atrás da desculpa da idade. Eles deveriam morrer antes de matarem a inocência ou ficarem mudos sem ter tempo de dizerem aos jovens que quando o tempo passar virá o equilíbrio. Meio-termo oriental de filosofia de esquina.

Não merecem saber que no mundo existem Deusas que relembram os nossos pecados, alisam nossos defeitos e exaltam a nossa ira. Lambem com sal nossas feridas e trazem consigo o perfume verdadeiro da vida.

São elas que nos ensinam a não crescer,  Deusas que tomam de assalto a vida de quem deixa. Elas abrem o mundo de incertezas, mandam para o inferno qualquer bom costume. Tiram as nossas roupas, abrem nossos ventres e geram luz.

Nos ensinam sobre nada, fecham a matraca da verdade, não perdoam covardias, amam os defeitos e as falhas. Leem nossa alma em nossos olhos e falam a nossa boca. Nelas o silêncio é lição daquilo que se deve aprender a ler.

Depois de hoje não quero mais deus. Sou devota da Deusa que mata e me ressuscita todos os instantes. Sou escrava daquilo que não sei o nome e me dá medo, mas que me dá vida. Esta que não se ensina, se encanta.

Para Minha Borboleta.